sábado, 5 de dezembro de 2009

O Colecionador de Lembranças

Por andei me procurei
E por cantos opostos pouco encontrei
Tenho muito para contar
Dos poucos sorrisos que pelo caminho deixei

Na bagagem lembranças
Memórias que insistem em embarcar
Pelos novos caminhos tristonhos
Desconhecidos perdidos em sonhos
Trouxe orquídeas negras e margaridas secas
Flores murchas sem vida
Violetas caídas

Um buquê de rosas enfraquecidas
Flores de um cerrado sem vida
Violetas caídas

Contemplo agora a beleza extraída
E os espinhos ainda têm vida
Só os espinhos têm vida ainda
Contemplo agora a vida extraída

Oh rosa, estais doente?
O verme que se aventa
Invisível à noite
Nos uivos da tormenta
Encontrou teu leito
De prazer carmesim
Em seu escuro amor secreto
A tua vida
Pois sim...

(citação de William Blake - poema "A rosa doente")

(Vultos - O Colecionador de Lembranças)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

...



Que saudades de quando o nada era tudo, da docura do não saber, do encantamento, do desprendimento, das não-dúvidas. Hoje o tudo é nada e o nada é demasiadamente vazio.

Ismália



Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

(Alphonsus de Guimaraens)