quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? – me perguntarão.
– Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? – Tudo. Que desejas? – Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)

Quero solidão.

(Cecília Meireles)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Considerações

(...)temos constantemente de parir nossos pensamentos de nossa dor e maternalmente transmitir-lhes tudo o que temos em nós de sangue, coração, fogo, prazer, paixão, tormento, consciência, destino, fatalidade.

(Friedrich Nietzsche)

Viva sempre pelo máximo, pois quando se tolera e aceita viver pelo mínimo, relevando alguns aspectos, este sempre se volta contra você.
Poemeto Irônico

O que tu chamas tua paixão,
É tão-somente curiosidade.
E os teus desejos ferventes vão
Batendo as asas na irrealidade...

Curiosidade sentimental
Do seu aroma, da sua pele.
Sonhas um ventre de alvura tal,
Que escuro o linho fique ao pé dele.

Dentre os perfumes sutis que vêm
Das suas charpas, dos seus vestidos,
Isolar tentas o odor que tem
A trama rara dos seus tecidos.

Encanto a encanto, toda a prevês.
Afagos longos, carinhos sábios,
Carícias lentas, de uma maciez
Que se diriam feitas por lábios...

Tu te perguntas, curioso, quais
Serão seus gestos, balbuciamento,
Quando descerdes nas espirais
Deslumbradoras do esquecimento...

E acima disso, buscas saber
Os seus instintos, suas tendências...
Espiar-lhe na alma por conhecer
O que há sincero nas aparências.

E os teus desejos ferventes vão
Batendo as asas na irrealidade...
O que tu chamas tua paixão,
É tão-somente curiosidade.


(Manuel Bandeira - A Cinza das Horas)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Não consigo descrever a sensação que trago, apenas digo...

Sentada a ouvir palavras verdes ditas por um barítono e embreagada de sono por um anti-alérgico, ouço o canto de pássaros. Divago, a vago, sem vago. Sinto que algo está no ar, está no ar. Força, coragem, perseverança. É tempo de mudanças, de deixar para trás os que merecem lá estar.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010



Como cego perdido em busca do caminho, aguardo neste lume o fim de tantas incertezas.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Lua, lua, lua...
Gloriosa, silenciosa, reluzente.
Uma aura cintilante, serena e alva.
Envolve-me em tua luz,
eterna mãe acolhedora.
A cada alvorecer
os dias murcham como as flores.
Os olhos tão cansados querem sair do caos.