sexta-feira, 22 de janeiro de 2010



...nos lábios, um gostinho doce além de uma envolvente e embriagante sensação de liberdade.

A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

* Este poema foi arranjado pelo Padre Antonio Damázio. O texto original escrito em prosa por Clarice Lispector encontrá-se no livro A Descoberta do Mundo.

Devora-me ou devorar-te-ei

Você pode escolher curvar-se diante das derrotas, das más escolhas, das angústias, dos fatos que tendem a te levar para o buraco e ser devorado por tudo; suco gástrico em ti. Ou ergue-se como um gigante mitológico e aniquilar, mastigar e cuspir o que irá te engasgar. Devorar ou ser devorado. Nenhum sentimento medíocre devorar-me-á. Não cessarei aos encantos do abismo sem fim. Devora-me ou devorar-te-ei. Nos olhos, a chama da liberdade. O perigo do desconhecido. Sensações desafiadoras. O não contentar-se com sensações, sentimentos de uma vida insuportavelmente mediana.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Descaminhos



Sigo a descaminhar, pois caminhar já não supre a ânsia pelo que almejo.