sábado, 28 de fevereiro de 2009

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


(Carlos Drummond de Andrade)

Chico Buarque para acompanhar - Flor da Idade.
http://www.youtube.com/watch?v=p9uz19TlD38

E daí? Eu adoro voar!

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.
(fonte a confirmar)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009


Tudo parece tão estranho. Pessoas estranhas, gestos estranhos, atitudes estranhas. Estranhamente, o que vejo são vestígios, vultos, pseudos gestos e palavras, personagens. Um olhar solitário. Uma busca incessante. Um labirinto sem fim, sem fim, sem fim...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Mundo Grande

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.


(Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do Mundo)

Um suspiro, uma lágrima e uma reverência ao grande mestre.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"Alice sai com umas idéias difíceis de entender. Mas tão simples, quando se pensa como uma criança. Só que Alice não é mais uma criança. Ela é uma borboleta. Ela está num casulo e vai se transformar em uma mulher. Só que dentro do claustro de fibras Alice se vê no espelho, e vê sua vida e vê seus delírios, medos e ansiedades".

(Lewis Carroll - Alice através do Espelho)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Mundo particular

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade...sei lá de quê!”
(...)
(Cartas de Florbela Espanca a Dona Júlia Alves e a Guido Battelli, 1ª edição, Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Nostalgia futurística

Como está florida a árvore. Sentada numa cadeira não tão aconchegante, ouvindo refrões que dizem algo que não compreendo bem, entretanto, que me afloram lembranças, de um passado não tão distante, divago sobre meus pensamentos... Continuo a observar a árvore, ou melhor, um pedaço dela, o perfil que me é possível avistar pela janela, sentada na minha “desnobre” cadeira, não que ela seja de toda má, mas com certeza há outras muito melhores.
Um suspiro, longo, medianamente longo, que sinto meus pulmões inflarem de ar. Olhos fechados por alguns segundos. Percebo que a nostalgia está cada vez mais distante. Indaga-mo – será por que o passado não me faz falta? Talvez a nostalgia tenha mudado de foco ou talvez somente agora tenha percebido o seu verdadeiro foco – o futuro. Nostalgia futurística.
(...)

O tempo

O que venha ser o tempo? Vivê-lo e ainda perceber o seu percurso. Será que temos a noção exata do que chamamos de tempo? Tem dias que nem o sentimos passar, em outros, contamos as horas, os minutos, os segundos e o que nos resta é apenas um suspiro de impaciência. O tempo hoje parece-me estranho. Um cansaço tão grande apodera-se de mim, que sinto a alma enfraquecer. Olhos embaçados não me permitem enxergar. Não consigo quebrar as correntes, e estas cada dia me aprisionam, mais e mais.
(...)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Conjugar-me-ei

Eu me frustro
Tu me frustras
Ele/Ela(s) me frustra(m)
(...)
(...)
(...)
"Quantas vezes terei de viver as mesmas coisas em situações diversas?"
(Clarice Lispector - Perto do coração selvagem)