quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Uma busca, um aprendizado.

"...
Vestiu o maiô e o roupão, e em jejum mesmo caminhou até a praia. Estava tão fresco e bom na rua! Onde não passava ninguém ainda, senão ao longe a carroça do leiteiro. Continuou a andar e a olhar, olhar, olhar, vendo. Era um corpo a corpo consigo mesma dessa vez. Escura, machucada, cega - como achar nesse corpo-a-corpo um diamante diminuto mas que fosse feérico, tão feérico como imaginava que deveriam ser os prazeres. Mesmo que não os achasse agora, ela sabia, sua exigência se havia tornado infatigável. Ia perder ou ganhar? mas continuaria seu corpo-a-corpo com a vida. Alguma coisa se desencadeara nela, enfim.
E aí estava ele, o mar.
Aí estava o mar, a mais ininteligível das existências não-humanas. E ali estava a mulher, de pé, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fizera um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornara-se o mais ininteligível dos seres onde circulava sangue. Ela e o mar.
Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões...."


(Clarice Lispector – Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres)


A eterna procura pela própria essência. Minha eterna procura, assim como Lóri, com a ressalva que ela a descobriu e aprendeu com sua essência. Conseguiu liberta-se das máscaras que teimam em agarrar nossas faces e das armaduras que grudam em nossos corpos. Perdeu-se, vagou por caminhos obscuros, libertou-se, encontrou-se, aprendeu a ser ela mesma, nua e crua. Acharei a minha essência algum dia? Provavelmente não.

Uma excelente reflexão sobre o livro.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Contra-Corrente

http://www.youtube.com/watch?v=ja5wA4s8tQU&feature=related

Deixe-me ir
Deixe-me ir
Deixe-me buscar as respostas que preciso saber
Deixe-me achar uma saída
Deixe-me partir
Com o refluxo
Por favor, deixe-me ir

Deixe-me voar
Deixe-me voar
Deixe que me levante contra esse céu de veludo vermelho-sangue
Deixe-me perseguir tudo isso
Quebrar minhas asas e cair
Provavelmente sobreviver
Então, deixe-me voar
Deixe-me voar...

Deixe-me correr
Deixe-me correr
Deixe-me arriscar nessa viagem rumo ao sol
Você sempre esteve comigo
Mas pode me perder aqui
Agora me ame se ousar
E deixe-me correr

Eu estou vivo e eu sou fiel ao meu coração - eu sou eu,
mas por que a verdade sempre tem que me matar?

Deixe que me arrebente!
Deixe que sangre!
Deixe que me despedace, eu preciso respirar!
Deixe que me perca!
Deixe que vague sem rumo!
Para talvez prosseguir...
Apenas deixe-me sangrar!

Deixe-me esvair!
Deixe-me morrer!
Deixe-me quebrar as coisas que amo, eu preciso chorar!
Deixe-me queimar tudo!
Deixe-me cair!
Através da chama purificadora!
Então, deixe-me morrer!
Deixe-me morrer...

Deixe-me sair
Deixe-me desaparecer nessa noite de veludo negro-pich

(Pain Of Salvation - Undertow)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

E o vento sussurra palavras,
que mais parecem ecos do além...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A FLOR DO SONHO

A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! ...
Milagre ... fantasia ... ou, talvez, sina ...

Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?! ...

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minha’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi ...

(Florbela Espanca - Livro de Mágoas)

"Pensar é um ato. Sentir é um fato."

(Clarice Lispector - A Hora da Estrela)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fuga

............................................ (Salvador Dali)
Ah! morte incerta
Nascida num forte
de desvarios noturnos.
Põe-se a cantar...

Ah! incerta morte
Pobre enlouquecida
nascida sem sorte.
Põe-se a cantar...

Debruça-te sobre mim
Vem de transporte,
seja qual for,
aqui estou eu!

Morte forte, tonta,
difarçada.
Surge de ímpeto, incerta
De relâmpago, fugaz.
Põe-se a cantar...

Um cantar sombrio e
libertador!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Sombras Convidativas

Vê as nuvens que estão a sua volta
Para cada sombra que encontrares
Enxuga o suor do rosto,
Delicia-te com a frescura,
Goze da brisa.
Prolongue, enquanto for possível
O teu repouso
Nessas manchas de sombras convidativas!
Retalhos de sombra fresca
Numa estrada ensolarada...
Não faças como eu.
Na sofreguidão de procurá-las,
Perdi-me.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ensaios inacabados, inícios conturbados.
O início. Mais uma vez, estou a começar um blog. Será que desta vez este vai ter um prazo de validade maior? Começo e termino blogs como quem muda de humor. Pensei num título que representasse algo significativo para mim. Algo fragmentado, talvez. E cheguei a este - “Rascunhos Utópicos”. A princípio achei estranho, uma hora depois já me agradava e hoje acredito que seja bom. Sim, pois considerando que tudo que escrevo são rascunhos. Rascunhos de todos os tipos. Minhas agendas, páginas e mais páginas com escritos inacabados, cadernos, folhas de fichários – aulas entediantes sempre me inspiraram a escrever e desenhar (leiam “desenhar” como rabiscos estranhos, muito estranhos). Aliás, tudo que leva ao tédio tende a despertar mecanismos de fuga em nossa mente, ao menos na minha.

Utópicos, utopia...

Nada mais que uma aspiração por algo nunca venha a acontecer. Impossível? Não, pois nada é impossível - acredito, digamos então, divagações. Em minhas divagações, o irreal é real e o concreto é abstrato. Tudo é possível, na medida em que o impossível se torna vulnerável. Há espaço também para os pensamentos lógicos, claro, filosóficos, de botequim. Simplesmente, é assim. Um caleidoscópio, possivelmente, ou não.

Enfim, as melhores idéias sempre as tenho nos momentos mais impróprios. É incrível. Dignas de um minuto de fama, mais que isso é "balela". E as esqueço quando sento para escrever. Talvez, seja melhor escrever em pé da próxima vez (idéia!).

Como é difícil começar algo, a escrever algo, sempre se tem mil idéias na cabeça, fabulosas, estupendas, histórias geniais, e tudo acabam em divagações, divagações, divagações...

Não posso e não vou esquecer de dedicar este início a minha amiga Roxie, vulgo bambina (risos!). Criei este blog a pedido dela, que prontamente atendi depois de quase três meses, eu acho. Como sou obediente, não?