quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Uma busca, um aprendizado.

"...
Vestiu o maiô e o roupão, e em jejum mesmo caminhou até a praia. Estava tão fresco e bom na rua! Onde não passava ninguém ainda, senão ao longe a carroça do leiteiro. Continuou a andar e a olhar, olhar, olhar, vendo. Era um corpo a corpo consigo mesma dessa vez. Escura, machucada, cega - como achar nesse corpo-a-corpo um diamante diminuto mas que fosse feérico, tão feérico como imaginava que deveriam ser os prazeres. Mesmo que não os achasse agora, ela sabia, sua exigência se havia tornado infatigável. Ia perder ou ganhar? mas continuaria seu corpo-a-corpo com a vida. Alguma coisa se desencadeara nela, enfim.
E aí estava ele, o mar.
Aí estava o mar, a mais ininteligível das existências não-humanas. E ali estava a mulher, de pé, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fizera um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornara-se o mais ininteligível dos seres onde circulava sangue. Ela e o mar.
Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões...."


(Clarice Lispector – Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres)


A eterna procura pela própria essência. Minha eterna procura, assim como Lóri, com a ressalva que ela a descobriu e aprendeu com sua essência. Conseguiu liberta-se das máscaras que teimam em agarrar nossas faces e das armaduras que grudam em nossos corpos. Perdeu-se, vagou por caminhos obscuros, libertou-se, encontrou-se, aprendeu a ser ela mesma, nua e crua. Acharei a minha essência algum dia? Provavelmente não.

Uma excelente reflexão sobre o livro.

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